eu acordo. acordo cedo, muitas vezes, mas me vejo incapaz de levantar; penso que é o melhor, mas não encontro em mim nenhuma vontade para colocar o plano em prática. meu despertador apita a cada meia hora e eu me irrito, e olho meu celular, e espero encontrar ali qualquer coisa pela manhã que me faça querer viver de novo — algo como o presente de um papai noel —, mas nada existe; então, eu enrolo e seguro o celular entre as mãos. normalmente, nenhuma mensagem pode me animar; por vezes, um “amiga, bom dia!” me traz um sorriso ao rosto (ainda bem que a luisa existe). vejo a tirinha do dia de dumbing of age, checo a hora, e me levanto. às vezes me levanto às oito e meia, às vezes às nove, às vezes depois; frequentemente me pergunto o que aconteceria se eu apenas decidisse não me levantar.
(no dia depois da madrugada em que eu passei mal, demoro a abrir os olhos depois de cochilar pela manhã; são onze horas e, quando abro os olhos, penso que demoraria até alguém me encontrar caso eu não estivesse mais viva.)
me levanto; muitas vezes enrolo, porque não quero sair do quarto. enrolo até mesmo para ir ao banheiro — tudo tem que ser feito às pressas. às vezes, acordo comigo o passarinho e faço carinho nele antes de voltar. às vezes, estremeço ao encontrar meu pai ou ver meu irmão pela manhã. a vontade de fazer parte de um mundo externo ao meu quarto diminui, e eu cedo; já tenho água na minha cabeceira. por vezes, também me esqueço de comer — tem sido mais difícil, desde que passei mal. minha alimentação está completamente desregulada, e prefiro ficar no quarto a sair. às vezes, em dias melhores, me permito.
minha cabeça fica envolta num zumbido durante todo o dia. funciono devagar alguns dias, rápido em outros: “o dia passa rápido demais, mas não rápido o suficiente”, eu escrevi, certa vez. me pego sem querer pensar. me pego sem conseguir prestar atenção (e sem querer, também, se for sincera). algumas reuniões me fazem querer chorar, outras me fazem querer gritar. olho o celular; escrevo; me arrependo; fujo. alguém fala comigo, respondo sem estar realmente ali — me sinto triste por não conseguir responder com empolgação alguém que só quer me ajudar. sem conseguir responder, me sinto só, e me sinto a cada dia mais só. o dia acaba e minha cabeça ainda faz barulho, e eu continuo sentada, pensando se consigo adiantar uma tarefa, fazer mais alguma coisa,
[são dez e meia e eu não fiz nada.
eu me deito. às vezes, eu choro; choro muito, em silêncio, sem saber dizer o motivo desse choro em específico. eu tento respirar fundo. eu penso que só quero dormir, mas que não quero dormir porque não quero acordar. eu fecho os olhos. penso em dizer que vou sumir um pouco, penso em sumir aos poucos. penso que é injusto, e me canso de pensar. eu tenho algum pesadelo, normalmente, ou um raro sonho.
eu acordo.