às vezes eu entendo completamente como é que você se sente — se encolhendo em torno de si mesmo, ocupando o mínimo de espaço e ao mesmo tempo o máximo, o paradoxo entre parecer ameaçador o suficiente para que ninguém te ameace e ser insignificante o suficiente para que ninguém te note. eu quero te dizer que eu entendo, eu entendo, eu já estive nesse mesmo lugar e eu já fui essa mesma pessoa — mas eu era uma pessoa diferente, apesar de estar no mesmo lugar. eu tento te alcançar e é como tentar falar com alguém que vai estar lá daqui a alguns anos, e não agora, e as suas palavras se perdem no ar enquanto você sabe que é essa a sua sina: ver as palavras perderem o significado, só para que ele (com sorte) volte ainda mais forte um, dois, quatro, seis anos depois.
eu quero te abraçar e resolver os seus problemas e curar suas feridas e te proteger do mundo feito uma casca, mas eu não posso e, mais importante, eu não consigo. você é sua própria pessoa e trilha o seu próprio caminho e, por mais que me lembre de mim mesma ou me faça pensar em tantas coisas que já passaram pela minha cabeça e provavelmente passam pela sua, você é você. uma pessoa diferente, no mesmo lugar, e em lugares diferentes ao mesmo tempo.
existe o momento em que tudo o que eu sinto é raiva, mas existe aquele pequeno instante, milagroso e doloroso, em que eu sei quem você é por baixo da casca e acima da mediocridade que você assume para que ninguém te ameace, insignificante como você finge ser. eu sei quem você é, e eu vou estar aqui quando você decidir que não precisa intimidar nem se encolher. eu não sou você, mas eu já estive aí, no mesmo lugar. talvez um dia você entenda que eu quero cuida de você, também.