3.4.17

queria tanta coisa

tem um lugar bem específico que me lembra você. não é a sua rua, mesmo que eu lembre de você sempre que passo por ela; não é a frente do iad, por mais que eu sempre lembre que foi ali que você me abordou pela primeira vez. é aquele lugar bem na frente do jesuítas, quando você atravessa a rua, na frente da faixa, onde tem uma banca e uma barraquinha de espetinhos.

é ali que eu me lembro de você todo dia — no ônibus, voltando pra casa, resolvendo coisas na rua. foi ali que eu encontrei você (e a ana, e a brenda) uma vez, quando você já tava morando em bh e veio visitar. você lembra? você não lembra, mas eu lembro. você estava aqui e elas estavam tão frenéticas e eu estava voltando da faculdade, provavelmente da aula de cerâmica, então era uma segunda-feira, e eu estava cansada. vocês perguntaram se eu não queria ir junto, porque você tava na cidade. eu, suja de barro, disse que não, que estava cansada. eu não me lembro das palavras, ou se vocês chegaram mesmo a me convidar pra algo, mas eu acho que sim. eu só queria ir pra casa, mas devia ter ido, eu devia ter concordado e eu devia ter te dado mais do que só um abraço, do que só visto você e dito que estava com saudades.

na primeira vez em que a gente se falou, eu provavelmente tinha 18 anos ainda recém-feitos. eu nem lembro quantos anos você tinha — talvez 19? 20? você era legal demais, isso era um fato (um fato adolescente bobo, mas ainda assim um fato), e veio me cutucar e dizer que tinha amado aquela minha camiseta, perguntar se tinha sido eu quem fez, dizer que amava harry potter também. foi assim que nós dois ficamos amigos: porque você teve a coragem de me chamar, na frente da faculdade, e conversar com uma completa estranha. foi nesse dia mesmo que eu fui na sua casa? eu não lembro. mas eu fui, eventualmente eu fui, eventualmente uma vez na sua casa virou duas que viraram três e a gente se via mais do que só de vez em quando.

lembra de quando a gente ia em brechós e ia ao cineclube e ia caminhar na feira de manhã cedo? eu lembro. era bom, joão, você me tirava de um estado quieto que eu precisava que alguém me tirasse, você era tão espontâneo, tão feliz, tão. você era luz e animação, você realmente era, e é tão difícil falar de você no passado, só no passado. ainda dói.

foi há um tempo, mas ainda dói.