nervosa, muito nervosa. eu sinto que vou vomitar e você se sobressalta a cada vez que a porta abre (supostamente, eu repito na minha cabeça, porque eu não estava lá e isso é só uma memória agregada de coisas que eu sei). tem outra menina que está sentada perto do desembarque, uma menina que eu também preciso encontrar, mas o caminho é longo e eu não te encontro em lugar nenhum. cadê? cadê a boneca, também? eu penso: é bom, que dá tempo de me preparar. eu penso: que mané tempo? eu sei que não vou estar pronta, nem que demore mil anos.
você surge e é como um susto — não, é um susto, quase como se tivesse se materializado na minha frente. é sério, eu não faço a menor ideia de como você estava ali, e de repente, você estava, e você me abraçou, e eu me lembrei das suas palavras: uma pessoa enorme e cheia de vergonha. e eu entendi, enquanto você me abraçava; você era mesmo enorme. você podia me fazer sumir dentro de você, se quisesse. você ainda pode, mas eu não sabia, naquele momento.
você me dá um brinquedo (será que é nessa hora?), eu te encaro e seguro sua mão, porque ainda tem outra menina que eu preciso encontrar. eu bato os olhos nessa menina e eu penso em como eu tenho medo de nunca saber o que dizer, medo de que não gostem de mim, medo de descobrir que eu sou algo que não queria ser e que ninguém quer por perto. essa outra menina não para de falar por um segundo, e eu sorrio; é bom estar ali. é bom estar com ela, e é bom estar com você.
(a gente anda de um lado pro outro e você me abraça de novo e meu coração bate forte e eu quero segurar a sua mão, e a gente para e você não fala muito e não tem problema, eu te dou todo o tempo do mundo pra descobrir como você se sente, você nunca vai precisar correr pra me encontrar. só se você quiser.)
quinze
prelúdio: você começa a ser você de madrugada, depois que eu ouço uma coisa que você fez enquanto me encontro num surto de falta de sono motivado pela mais pura alergia. eu mando mensagens demais, você acorda com sono demais; você fala comigo, você é ótima. antes, eu briguei com você por dizer coisas ruins sobre você mesma (eu me pergunto, naquele momento, se você vai me perdoar por brigar sempre que essa for a pauta), porque em momentos assim eu enxergo você em todo o seu sorriso (que é bonito, tão bonito).
você continua a ser você sob um sol escaldante de sabe-se lá quantos graus, enquanto eu estou sentada com meus amigos na grama. você é tão bonita, eu concluo de novo enquanto a gente se levanta, tão bonita e tão gentil e eu quero que você goste de mim; eu sei que você disse que gosta, mas eu tenho medo, eu sempre tenho medo (é o meu segredo, aquele que ninguém sabe), e os shows começam. a partir daí é tudo muito confuso, mas eu sei que você está sempre perto de mim e que eu te procuro a cada instante, e eu tento não pensar muito se isso é ou não chato e se eu estou ou não fazendo a coisa errada. chove e você não coloca uma capa de chuva e eu não coloco uma capa de chuva, e por dentro eu dou risada pensando que a gente é muito do contra, a gente é a gente demais. toca uma música nossa, tocam duas e talvez até três, para de chover e volta a ter sol, e eu sinto falta da chuva. passa mais um show, e é o nosso show (uma imagem de um jovem com os dizeres "guess who got you a ticket to Death Cab tonight?"). eu lembro do meu coração e do nó na minha garganta, eu lembro principalmente de segurar a sua mão e de estar encharcada e de nem ligar tanto assim, porque você me abraçou e estava tudo bem. i dreamt we spoke again, e tá tudo bem. summer years. avança e avança e em title and registration eu me pergunto se é muito boba a minha ideia de te beijar numa música bonita; crooked teeth e eu pondero se ela é o suficiente. o baixista dá um violão pro ben gibbard, meu estômago se repuxa e eu sei que é i will follow you into the dark, e é a minha chance; todo o meu corpo trava, eu sei que só tenho uma chance, e eu me lembro de "você prefere que a outra pessoa tome as iniciativas?", e eu penso que é isso, eu não posso mais ser assim. eu te beijo em "in the blackest of roooooooms" e você esconde a cabeça no meu ombro e eu quero rir e eu quero rodopiar e eu tenho calafrios; você é uma montanha. você é um gigante. você canta no meu ouvido e você é mil passarinhos e você é o som da cidade, também — meu deus, como eu amo a sua voz. como eu amo você, eu me dou conta, de novo, empurrando o sentimento pro fundo porque não é hora de pensar nisso. você é um cais. você é o mar. eu seguro você perto de mim, eu lido com problemas, e você continua do meu lado; a gente canta tu tu tu tu tururu tu tu e eu rio e tudo é bom. eu pisco pra você, você me mostra a língua. a gente bate palmas, meu óculos some, tudo bem, eu ia dar ele pra você. meu coração some, tudo bem. ele é seu, eu sei que você vai tomar conta.
dezesseis
eu vou ao seu encontro outra vez e você surge de surpresa outra vez; eu me pergunto se vai ser sempre assim. eu seguro sua mão; acho que é o primeiro dia em que nós temos programas que não são um primeiro encontro ou um show da nossa banda favorita, e tudo corre tão bem que eu mal posso acreditar (posso sim). nesse dia você é brisa e meu coração é furacão, a gente ri e eu encontro gente querida e você me conta coisas e eu dou um pouco mais de risada; a gente ouve a minha playlist, e você diz que está realizando um sonho. eu me pergunto se você sabe que eu não respondo sempre porque tenho vergonha e porque minha mandíbula fica travada num sorriso permanente quando eu estou com você, mas eu respondo mesmo assim: desajeitada, esquisita, mas respondo. eu penso que amo você, e que não tenho mais pra onde fugir. eu penso também que não ligo. eu te beijo perto de várias plantas e a boneca faz graça e você sente vergonha e eu rio; você é perfeita. suas mãos e seu nariz e suas orelhas e seu cabelo e sua boca e seus olhos e até a sua mochila roxa; eu te abraço e digo pra você respirar. "não consigo", você diz. deixa de ser boba, eu digo, você consegue. você me faz rir, eu te faço rir. eu não ligo de passar a vida inteira com você, nesses momentos. eu lembro de você fazendo carinho no meu braço. enorme, um coração enorme, sessenta dias apaixonado, cafuné e graça; eu quero sumir dentro de você pra não ir embora.
dezessete
seis horas da manhã que na verdade são seis e meia, que na verdade são cinco e meia que na verdade são quinze pras cinco. esse dia começa com você antes de encontrar você, e eu penso que é cada vez maior a vontade de ficar perto de você, e cada vez menos tempo (eu empurro pro fundo da mente, não vamos pensar nisso agora), e você chega e você é tão bonita (tá ficando chato, eu penso, mas não dá pra não pensar) e eu seguro a sua mão. a gente passa por várias ruas; você me fala da cidade e de você e eu te conto de mim também. você coloca o óculos (eu nunca vou parar de dizer o quanto você fica bonita de óculos), você me dá um fone e a gente escuta a sua playlist. eu me sinto em paz e nesse dia você é areia quente da praia, aconchego, coberta. "vocês são um casal, né?" "claro" e meu sorriso acende de você dizendo que falou toda convicta e eu fiquei quieta, porque nem me dá vontade de implicar; claro. claro que a gente é um casal. e é tão natural que nem precisou ser combinado, só aconteceu. café e gatos e conversas e sua mão na minha e conversas e conversas e conversas. você agora é o sol, eu me preocupo em te atrasar, e você diz que tudo bem; eu nunca sei, mas acredito em você. metrôs e mais metrôs, eu poderia ficar eras dentro do transporte público com você e talvez seja assim que se constrói um namoro da cidade grande: meios. in-betweens. um abraço e tchau e eu nunca quero que você vá embora; tudo o que eu quero falar é de você, porque eu preciso me lembrar. eu preciso me lembrar de cada segundo.
depois, olááááá, você — não tem como não sorrir quando você fala, e você é melhor que barulho de mar, é barulho de parque de diversões, aquela sensação gostosa de diversão misturada a gritos e tons de voz diferentes. eu te espero e é tão pouco tempo e todo mundo te ama, viu? eu disse que todo mundo te ama. você é engraçada bêbada, eu dou risada e te dou um beijo; dessa vez você deixa, e é tão bom, e hoje você é o bonito dos fogos de ano-novo e você é calafrio de tudo que é bom, você é o céu da madrugada e eu finalmente entendo que você é você, não tem como não ser, não tem como não rir, não tem nada que me mantenha longe de você. hoje você é minha e eu sou sua e ops, o tempo passou e ops, passou mais um pouco, e quem liga pra dormir pouco se é pra passar mais tempo com você? é tudo tão confortável. hoje, você é minha própria pele.
dezoito
hoje você e eu somos sono e confusão e tristeza morna; você chega e você é bonita demais e eu quero chorar, mas não posso chorar. não posso te beijar. não posso gastar cinco horas como se fossem quarenta minutos; hoje você é lençol ao vento, meio fraco e triste e acenando adeus. hoje eu sou uma confusão dentro de mim, e não sei como vou viver longe de você. hoje eu respiro fundo e seguro sua mão e não quero soltar, eu não quero mais soltar, nunca mais. você me dá um beijo, você me dá dois, eu abraço você. nunca foi tão difícil dar as costas e ir embora.